sábado, 21 de janeiro de 2012

Culpado ou responsável?

Um de seus achados de percepção é desenvolver as diferenças entre culpa e responsabilidade. Por mais que soem parecidos, não são sinônimos.

Culpa é se isentar da ação, como se não tivesse envolvimento com as escolhas da própria vida. Responsabilidade é aceitar a vida como aconteceu - ainda que não tenha sido perfeita.

Quem é culpado vai adiar um prazer inúmeras vezes, é capaz de reclamar do trabalho e não mexer uma vírgula para mudar de emprego, criticar seu marido ou mulher e manter a rotina do jeito que não gosta para permanecer praguejando.

É mais confortável se portar como culpado do que assumir os próprios desejos. Há gente que desabafa que não tem tempo para os filhos, mas não reivindica seu tempo, não abre seu tempo e procura encontrar desculpas externas para não ser criticado

Então, a culpa traz uma dupla fantasia: de controle, em que a pessoa se vê geradora do que de ruim acontece em sua volta, e de fatalidade, em que não se sente apta a modificar o comportamento.

O culpado não faz por mal, ele mente para si e para os outros, é um enganado e um enganador. Sua atitude garante benefícios, senão não seria largamente adotada: preserva a idealização, cria amizades pela dependência do sofrimento e anula a autoridade de suas opções.

Imaginamos que mentindo para si os demais não descobrirão. Precisa ter muita coragem para assumir seus erros e falhas...e entender que tudo que plantamos colhemos...sempre penso que é fácil culpar o outro pelas ausências, explosões e sumiços..difícil é concluir que isso foi você mesmo que plantou...quando sufocou, quando não ouviu, quando preferiu fazer uma cara feia e silenciar à falar a verdade
É uma espécie de transe, de glorificação da vítima, de coitadismo insaciável; o problema passa a ser eternamente alheio, do governo, dos pais, do casamento, do mercado de trabalho, do trânsito...nunca eu, porque eu sou onipotente demais para errar...

Na terapia, o culpado não procura ajuda, e sim um fiador, quer que concordemos com seus motivos para continuar sofrendo em vão e fazendo aquele papel de vítima tão insuportável. Chega com a alma vendida. A terapia é o oposto: a arte de restituir a uma pessoa a alma que ela tem.

A devolução da alma se desenrola pelo caminho da simplicidade: admitir o tamanho da experiência, acolher os defeitos e as falhas, permitir-se essencialmente errar, tentar consertar enquanto é tempo e seguir adiante. Não ser superior ao passado e ao outro, mas se contentar com o possível, o deliciosamente possível.

espero que tenhas o brilho malandro de alguém que desvendou a verdade, recusando atalhos e assumindo suas vivências. Um homem que trocou o poder de ser o dono da razão por um que aceita suas insconstâncias...

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